Um psicólogo pode atender alguém conhecido?
Escrito em 5 de maio de 2025 • Por Andreia Ramos

Não. Não é aconselhável nem eticamente correto o acompanhamento a alguém conhecido, quer a pessoa pertença a um círculo social ou familiar mais próximo ou mais afastado. A relação entre o psicólogo e a pessoa é uma relação muito particular que deve ser construída a partir do zero, na primeira consulta de psicologia. A partir do momento em que o psicólogo possa ter informações ou opiniões acerca de alguém, estão a criar-se potenciais resistências e desafios no processo terapêutico. Mais especificamente, não é moralmente correto atender ninguém conhecido tendo em conta a:
Ausência de objetividade por parte do psicólogo
Quando se conhece alguém, as pessoas criam impressões e opiniões sobre os outros que tendem a ficar cada vez mais vincadas à medida que a relação se vai aprofundado. Desta forma, em terapia, é de extrema importância que o psicólogo se abstenha de ideias preconcebidas, preconceitos e expectativas e se mantenha objetivo em relação à pessoa que acompanha.
Receio da quebra de confidencialidade e julgamento por parte da pessoa
Pelo contrário, ser atendido/a por um psicólogo que se conhece pode provocar alguns receios relacionados com a confidencialidade (por exemplo, medo que o psicólogo comente algo com alguém do círculo social e familiar) e com o julgamento (por exemplo, a pessoa pode sentir relutância em partilhar algo relevante com receio do julgamento). Estas questões podem ser obstáculos significativos à relação psicoterapêutica e, por conseguinte, à eficácia do processo.
Possibilidade de maior bidirecionalidade na relação
A relação terapêutica é uma relação unidirecional, em que o psicólogo acaba por deter de inúmeras informações sobre a vida da pessoa que acompanha, porém, a pessoa não tem essa informação acerca da vida do psicólogo. Quando se conhece o psicólogo (e/ou vice-versa), as consultas podem escapar à verdadeira essência da psicoterapia – a pessoa sentada em frente ao psicólogo.
A definição de limites é importante porque, de antemão, o psicólogo pode evitar circunstâncias que podem prejudicar o sucesso de um determinado processo de terapia. Desta forma, tendo em conta os riscos, não é ético um psicólogo acompanhar alguém que conhece. A forma de lidar com estas situações deve passar pelo encaminhamento para um psicólogo de confiança que conheça a pessoa, pela primeira vez, no contexto psicoterapêutico.