Devo fazer um autodiagnóstico na saúde mental?
Escrito em 19 de agosto de 2024 • Por Andreia Ramos
Não. A palavra “autodiagnóstico” significa que a pessoa faz um diagnóstico de si mesma, o que é algo que não faz sentido em nenhuma área da saúde. Em específico, na saúde mental, apenas médicos e psicólogos têm formação para a categorização dos sintomas descritos pela pessoa num diagnóstico, sendo algo complexo e que implica uma compreensão detalhada do respetivo quadro clínico. A informação abundante em questões de saúde mental tem bastantes vantagens ao nível da sensibilização e consciencialização, porém, também se identificam inúmeros riscos relacionados com informação não confiável e da potencial descontextualização dos sintomas.
Subjetividade da saúde mental
A saúde mental é uma área complexa e as dificuldades podem pertencer a um diagnóstico, a vários diagnósticos (comorbilidade) ou até não pertencer a nenhum. Para além disso, a atribuição de um diagnóstico de saúde mental, requer o despiste de causas orgânicas ou fisiológicas por um médico e a ausência de uma explicação física para as dificuldades. Este trabalho complexifica o diagnóstico porque alguns sintomas podem ser transversais a vários quadros clínicos e até podem ser enquadrados como dificuldades sem atribuição de um diagnóstico específico.
Informação não confiável
Apesar da afluência de informação, qualquer pessoa pode escrever os critérios para um diagnóstico, podendo ou não estar apta para discutir estes temas de forma científica e rigorosa. Para além de informação errada, podem também estar presentes informações corretas mas descontextualizadas e que podem fazer com que uma determinada pessoa ache que tem algo que na realidade não tem. Desta forma, destaca-se a importância de uma avaliação por um profissional de saúde qualificado, de forma a prevenir informação incorreta e descontextualizada.
Autoavaliação enviesada
As pessoas acabam por ter uma visão muito subjetiva em relação a elas próprias, sendo a mesma influenciada pelas emoções que a pessoa sente e pelas crenças que detém em relação a si própria e ao mundo que a rodeia. Desta forma, é difícil que qualquer atribuição direcionada para a própria pessoa seja objetiva e não influenciada por fatores pessoais e contextuais. O trabalho de um profissional de saúde mental quando diagnostica alguém é filtrar a informação relevante que permite tornar as dificuldades mais concretas e objetivas.
Apesar da perceção das pessoas em relação às suas dificuldades ser muito importante e de dever ser sempre considerada pelo médico ou psicólogo, é relevante o reconhecimento dos riscos da autoatribuição de um diagnóstico. Os diagnósticos apresentam inúmeras vantagens de serem realizados, principalmente, pela compreensão que a pessoa começa a deter dela própria. No entanto, o diagnóstico deve ser formalizado sempre por alguém habilitado para tal e não ter uma base subjetiva que cumpre uma função de alívio dos sintomas por uma compreensão potencialmente incorreta das causas.