Esta questão aparece, frequentemente, após algumas sessões de acompanhamento. A ausência de acontecimentos “significativos” entre consultas, pode levar a que as pessoas fiquem mais ansiosas e, em algumas situações, pode levar à desmarcação da própria consulta. No entanto, o processo terapêutico, dada a sua continuidade temporal, apanha fases que vão oscilando – fases de stress, fases de tristeza, fases mais neutras – sendo expectável e natural que não aconteçam sempre eventos percecionados como relevantes. Nestas situações, as pessoas podem levar temas que nunca falaram e gostariam de aprofundar ou expressar essa ausência de algo para contar ao psicólogo.

 

O que pode ser relevante e ainda não foi falado

 

Em semanas mais neutras, pode ser importante refletir, antes da consulta, o que nunca foi falado e que pode ser relevante para o psicólogo ainda compreender melhor a pessoa. Estes aspetos podem ser importantes e podem não ter tido espaço para serem discutidos em consulta, dado o foco ser outro. Desta forma, a pessoa pode falar, por exemplo, de uma relação significativa que ainda não tinha sido aprofundada ou de um evento ou situação que custou particularmente. Por vezes, pode haver uma sensação ao sair da consulta que não se tocou num ponto chave e estas semanas podem promover a comunicação do mesmo.

 

Expressar a ausência de algo para contar

 

O outro lado, que para algumas pessoas pode ser mais difícil, é o lado de aceitação de que não aconteceu nada de relevante. Para pessoas que normalmente gostam de estar mais em controlo da consulta, pode aumentar algumas sensações de ansiedade por o psicólogo poder conduzir a consulta para lados mais imprevisíveis. O ir sem nada para a consulta pode acabar por ter vantagens significativas, pois permite aprofundar tópicos ou reconhecer mecanismos que ainda não tinham tido espaço para serem processados e falados. Desta forma, em alguns momentos, pode ser pertinente mencionar que não aconteceu nada de mais e deixar a consulta fluir da mesma forma.

 

As consultas, por acontecerem periodicamente, acabam por apanhar diversos momentos da vida da pessoa. Para algumas pessoas, pode ser difícil não ir com um tema planeado para o contexto terapêutico. Não obstante, pode ser importante aproveitar essas consultas como espaço para falar do que ainda não foi falado ou para as pessoas se deixarem ser conduzidas pelo próprio psicólogo. A relação deve ser constituída por segurança e confiança (ao fim de algumas sessões) e o psicólogo está capaz de direcionar a consulta de acordo com os objetivos terapêuticos.