Um psicólogo deve esconder as emoções em consulta?

Escrito em 21 de outubro de 2024 • Por Andreia Ramos

Imagem simplista de Andreia Ramos a simbolizar o facto de o psicólogo dever esconder as suas emoções ou não

Dependendo da abordagem terapêutica e do próprio psicólogo, esconder emoções ou expressar emoções, apesar de serem comportamentos opostos, podem ambos ser legítimos. O “esconder as emoções” era muito típico em abordagens mais tradicionais em que se via o psicólogo como alguém mais neutro e em controlo das suas próprias emoções. No entanto, abordagens mais recentes demonstram que a responsividade emocional do psicólogo, está na base de uma boa relação terapêutica (relação entre a pessoa e o psicólogo) e a mudança acontece quando o psicólogo é percecionado como empático, afirmativo e colaborativo. Mais especificamente:

 

Esconder emoções não é “errado”

 

As terapias comportamentais enfatizam um psicólogo como especialista do comportamento humano que está em controlo e capaz de influenciar positivamente a pessoa. Para alguns psicólogos que seguem determinados modelos psicoterapêuticos, pode fazer sentido não revelar às pessoas como se está a sentir e isso é legítimo. A expressividade emocional por parte do psicólogo não é um requisito obrigatório para o sucesso psicoterapêutico. No entanto, é importante que a “neutralidade” não afete nem crie ruturas na relação terapêutica.

 

Expressar emoções com contenção

 

Não obstante, abordagens mais centradas na relação terapêutica encorajam os terapeutas a identificar e a expressar os seus sentimentos e pensamentos no momento. Estes modelos enfatizam que um psicólogo deve ser emocionalmente genuíno, porém, deve expressar os seus sentimentos com contenção. Isto é, deve expressar as emoções de forma calma, moderada e ponderada.

 

Expressar emoções como ferramenta terapêutica

 

Como os psicólogos orquestram e gerem as suas próprias emoções pode também servir como modelo de como as emoções podem ser geridas pela própria pessoa. A responsividade emocional por parte do psicólogo realizada de forma consciente e tática, pode ajudar as pessoas na autorregulação emocional e a não ficarem tão à mercê das próprias reações emocionais. No fundo, o psicólogo modela a responsividade emocional da pessoa através da sua própria responsividade emocional.

 

No geral, as abordagens mais recentes e as investigações na relação terapêutica como principal preditor do sucesso terapêutico, indicam que há mais vantagens na expressividade emocional por parte do psicólogo do que na sua completa contenção. Em específico, a falta de expressividade emocional pode estar associada a ruturas na relação terapêutica, pois as pessoas tendencialmente esperam uma reação quando relatam algo de relevante. No entanto, o “esconder emoções” e o “expressar emoções” acabam por poder fazer sentido dentro de alguns limites.

 

Referências: The emotional psychologist: A qualitative investigation of norms, dilemmas, and contradictions in accounts of practice