A Inteligência Artificial pode substituir um psicólogo?
Escrito em 24 de fevereiro de 2025 • Por Andreia Ramos

Com a evolução da inteligência artificial (IA) para modelos mais complexos, é possível verificar um aumento da sua utilização no que diz respeito a cuidados de saúde psicológicos e mentais. A utilização de modelos de IA como forma de terapia tem sido cada vez mais falada, despoletando discussão quanto à sua eficácia e segurança. Apesar de a IA ser uma ferramenta que traz muitas vantagens, a sua utilização como terapia e consequente substituição de um psicólogo ou psiquiatra não é recomendável. De seguida, serão apresentadas algumas das preocupações da comunidade científica:
Ausência de relação terapêutica
A psicologia e a psicoterapia vão além de técnicas e de abordagens psicoterapêuticas. Cada vez mais se tem estudado como a relação entre a pessoa e o psicólogo é determinante para o sucesso psicoterapêutico. A IA não possui empatia nem emoções, tem ausência de inteligência emocional e de experiências pessoais humanas. Apesar de alguns dos modelos mais recentes, conseguirem “mimicar” empatia e emoções, parece ainda difícil a promoção de fatores que permitam o estabelecimento de uma relação terapêutica segura e de confiança.
A importância das emoções
A psicologia vai muito além da racionalização de emoções. Desta forma, ao contrário de metodologias de intervenção mais tradicionais, a componente afetiva tem sido demonstrada como uma parte muito relevante do processo de mudança. Assim, a utilização das sensações e das emoções como intervenção, para já, ficaria bastante limitada pela IA.
Questões éticas e deontológicas
Os psicólogos atuam mediante um código de ética e deontológico que delineia a intervenção. Desta forma, tem sido discutido como é que a IA pode garantir a privacidade e confidencialidade dos dados da pessoa e o encaminhamento/intervenção aquando de perigo para a própria pessoa ou para terceiros. É necessário garantir a prevenção de danos por parte da IA e investigar, de forma robusta, se o princípio da não-maleficência (princípio base da psicologia) está assegurado.
As pessoas não são algoritmos e, nas consultas de psicologia clínica, com a prática, consegue-se facilmente compreender que não há um modelo que encaixe em toda a gente. O ser humano detém de emoções, personalidade, vivências, desafios, fatores genéticos e ambientais, que o tornam particularmente complexo e único. A IA é um bom recurso de conhecimento, porém, não estão asseguradas as condições necessárias para a sua segurança enquanto substituta de um psicólogo e de um processo psicoterapêutico.
Referências: A new era in Internet interventions: The advent of Chat-GPT and AI-assisted therapist guidance, Your Robot Therapist Will See You Now: Ethical Implications of Embodied Artificial Intelligence in Psychiatry, Psychology, and Psychotherapy