Porque é mais difícil para os homens procurarem ajuda?

Infelizmente, há dados que indicam que os homens têm uma menor probabilidade de procurar ajuda psicoterapêutica e morrem mais por suicídio do que as mulheres. Apesar de não ser uma relação linear, existem várias associações à ideologia de masculinidade tradicional, sustentada por questões sociais e culturais muito enraizadas. Desta forma, a procura de ajuda pode ser percecionada como ir contra o que é “expectável” de um homem (estigma social) e ser altamente desafiante por “obrigar” a falar de sentimentos e emoções.
Estigma social
A ideologia de masculinidade tradicional consiste na forma como um homem se deve comportar em sociedade: evitar tudo o que seja mais feminino, restringir a expressão de emoções (nomeadamente, emoções mais vulneráveis como a tristeza e a ansiedade), depender apenas de si próprios (serem autossuficientes), ter comportamentos de dominância e dureza, por exemplo. A verdade é que o cumprimento destas “normas” acaba por ter um impacto muito negativo na saúde física e mental dos homens, atrasando o pedido de ajuda e podendo resultar em prognósticos mais severos do ponto de vista mental.
Potencial dificuldade em falar sobre emoções
Estas normas acabam, muitas vezes, por ser ensinadas ao longo do desenvolvimento, em que há um desencorajamento para a expressão de emoções e afetos. Como tal, há uma potencial dificuldade no desenvolvimento de um vocabulário voltado para as emoções e uma dificuldade no processamento emocional. Desta forma, podem existir homens que adiam a procura de ajuda porque, internamente, há uma dificuldade acrescida em expressar o que estão a sentir. Assim, pode haver uma tendência maior para sintomas físicos, irritabilidade, zanga ou raiva em vez de tristeza e ansiedade, dada a barreira interna em aceder a emoções centrais relacionadas com o que está a acontecer na sua vida.
Os homens podem apresentar uma dificuldade acrescida em procurar ajuda psicológica por ir contra crenças sociais enraizadas na masculinidade e por ser algo intrínseco do ponto de vista de expressão emocional. No entanto, o atraso no pedido de ajuda acaba por complexificar o diagnóstico, trazendo inúmeros prejuízos para a própria pessoa e, por vezes, para o seu ambiente circundante. Desta forma, a vulnerabilidade dos homens deve ser mais valorizada e reforçada, quebrando padrões rígidos de comportamentos “aceitáveis”. As pessoas são únicas, as emoções chegam com um propósito e ninguém deve viver em sofrimento devido a expectativas sociais, muitas vezes desatualizadas, face à sociedade atual.
Referências: Speaking of Psychology - Men, masculinity, and mental health